Capítulo 7

A CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
DE JUVENTUDE NO BRASIL


“A verdadeira batalha pelo futuro deve ser travada em torno da construção de alternativas, oportunidades, escolaridade, capacitação e inclusão social dos jovens. Uma vez que a representatividade populacional da juventude é extensa e as ações que são pensadas para esse público ainda não atende a todos”

7.1 – Um pouco da história das PPJ’s

Para iniciarmos este tema, nos reportamos aos aspectos históricos da implementação das políticas públicas de juventude no mundo e no Brasil.
A formulação de políticas de juventude na Europa e nos Estados Unidos, que foi marcante no decorrer do século XX, esteve aliada à criação de instituições governamentais de atendimento específico ao público-alvo.
Na América Latina, a preocupação com os jovens e com políticas orientadas para a juventude ganhou representatividade a partir da década de 70, estimulada por alguns organismos latino-americanos e mundiais (tais como a CEPAL e ONU) e governos europeus (como o da Espanha, que promoveu iniciativas de cooperação regional e ibero-americana).
Pesquisas realizadas mostraram que esta preocupação começou antes, na década de 50, considerada como o momento de inclusão dos jovens aos processos de modernização, por meio de políticas educativas. Os dados estatísticos mostram que é a partir desse período que se processa a admissão maciça de crianças, adolescentes e jovens nos ensino primário e médio, tendo o Estado como instância definidora da formulação e implementação destas políticas.
O investimento em educação tem sido a principal política para jovens na busca de incorporação social das novas gerações. Na década de 50, o investimento em educação constituiu um mecanismo importante de mobilidade e ascensão social. Com o tempo, essa estratégia perdeu importância devido à deterioração da qualidade de ensino.
Nos estados latino-americanos, nesse mesmo período, a ocupação do tempo livre, pelos jovens, era incentivada, criando-se muitas oportunidades para isso, sob o pressuposto de que boa utilização do tempo faria evitar a adoção, pelos jovens, de condutas consideradas censuráveis, pelo mundo adulto.

O foco das políticas para os jovens dirigia-se, então, para a profissionalização, a ocupação produtiva do tempo livre e a educação dos jovens, atendendo à lógica desenvolvimentista.  
O jovem deveria ser preparado para se tornar um adulto produtivo, responsável pelo progresso nacional. Nota-se, portanto, a construção social da juventude como geração a ser integrada à sociedade para ela servir, priorizando-se na interação indivíduo e sociedade, um modelo ideal de sociedade, ou seja, a norma da sociedade produtiva (CASTRO & ABROMOWAY, 2002, p. 22).
Segundo Abramo (1997, p. 30), a juventude aparece – neste período, em que os atos de “delinqüência juvenil” extrapolam os setores marginalizados e afetam os setores operários e de classe média – como uma categoria social potencialmente delinqüente, devido à sua própria condição etária; e as culturas juvenis são sempre vistas como antagônicas à sociedade adulta. Firme nesta posição cabe ao Estado buscar medidas educacionais e de controle para conter a ameaçadora delinqüência.

7.2 – Referências Internacionais sobre Juventude

Do ponto de vista de referências internacionais sobre juventude que influenciam as discussões e formulações atuais, destacamos:
·       Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948);
·       Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966);
·       Convenção sobre a Exclusão de Todas as Formas de Discriminação Racial (1968);
·       Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1978);
·       Convenção sobre a Exclusão de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (1979);
·       Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984).

Das resoluções mais recentes e mais relevantes fazemos referência a Convenção Internacional dos Direitos da Criança da ONU (1990) que trata diretamente dos direitos dos “jovens adolescentes” até 18 anos.
Registra-se ainda a existência de outros instrumentos aprovados pelas Nações Unidas e pelos seus organismos especializados e por sistemas de proteção dos direitos fundamentais da Europa e das Américas, que reconhecem e garantem os direitos da pessoa como ser livre, uno e digno.
Da mesma forma dos instrumentos acima mencionados fazem parte do patrimônio jurídico do Brasil e da humanidade, a Convenção Ibero-americana dos Direitos dos Jovens (2005).
A convenção, apesar de ainda estar passando por um processo de ratificação no Brasil, oferece um conjunto harmônico de normas relacionadas com a juventude e com as políticas de juventude, que expressam direitos legitimamente constituídos.

“... deve-se avançar quanto ao reconhecimento expresso dos direitos dos jovens, quanto à promoção de maiores e melhores oportunidades para a juventude e a obrigação conseqüente dos Estados de garantirem e adotarem as medidas necessárias, visando o pleno exercício dos mesmos”.
“... sob a perspectiva de superar prejuízos e concepções pejorativas, paternalistas ou meramente utilitárias dos jovens, reivindique a sua condição de pessoas, cidadãos plenos, indivíduos reais e efetivos de direitos e que garanta a igualdade dos sexos, a sua participação social e política, a aprovação de políticas orientadas para o exercício pleno dos seus direitos, satisfaça as suas necessidades e os reconheça como atores estratégicos do desenvolvimento”.

Convenção Ibero-americana dos Direitos da Juventude – 2005


As Nações Unidas e seus diversos órgãos regionais impulsionam e apóiam ações a favor dos jovens: como a garantia dos seus direitos, do respeito e promoção das suas capacidades e a perspectivas de liberdade e progresso social a que, legitimamente aspiram. O instrumento consagrado para tanto é o Programa Mundial de Ações para a Juventude a partir de 2000, aprovado pela Resolução Nº50/81 da Assembléia Geral das Nações Unidas, que se destaca, entre outros relevantes marcos internacionais.
Outro documento de grande importância é à "Declaração de Lisboa", aprovada na I Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude, realizada em Lisboa, Portugal, em 1998, que constitui um marco no domínio das políticas de juventude para localizar e difundir as melhores práticas, a nível nacional, visando à elaboração, execução e avaliação das políticas de juventude, assim como, o Plano de Ação e as conclusões do Fórum Mundial da Juventude no âmbito das Nações Unidas, realizado em Braga, Portugal, em 1998, composto de mais de 680 organizações de juventude em nível mundial.

7.3 – Histórico das PPJ’s no Brasil

A primeira referência sobre PPJ no Brasil, foi o Código de Menores, de 1927 – cuja proposta era criar mecanismos de proteção às crianças contra os perigos e ameaças que as fizessem desviar do caminho do trabalho e da ordem –, orientou as políticas para os jovens até sua revogação, no final da década de 70. A tônica da tutela esteve presente também no Serviço de Atendimento ao Menor (SAM), criado em 1941. A substituição do SAM, em 1964, pela Política Nacional de Bem-estar do Menor (PNBEM), tendo como organismo gestor nacional a Funabem (Fundação do Bem-estar do Menor), serviu também como que para consagrar definitivamente a idéia de o jovem (especialmente o pobre) ser um “infrator potencial” que deveria ser reconduzido às malhas do sistema. Ao Estado caberia o papel de intervir para garantir o modelo de integração defendido pela sociedade.
Na década de 60, influenciados pela revolução cubana e pelas críticas – em todas as partes do globo – à intervenção norte-americana no Vietnã, os jovens de classe média participantes do movimento estudantil assumiram claramente um perfil contestatório e desafiador ao sistema político (especialmente contra a instalação das ditaduras militares na maioria dos países da América Latina). Os movimentos estudantis e de oposição aos regimes autoritários pautaram-se claramente pela crítica à ordem estabelecida e pela busca de transformações radicais na sociedade.
A juventude apareceu então como a categoria portadora da possibilidade de transformação profunda; e para a maior parte da sociedade, portanto, condensava o pânico da revolução.
O medo aqui era duplo: por um lado, o da reversão do ‘sistema’; por outro, o medo de que, não conseguindo mudar o sistema, os jovens condenavam a si próprios a jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade, por sua própria recusa (os jovens que entraram na clandestinidade, por um lado; por outro lado, os jovens que se recusaram a assumir um emprego formal, que foram viver em comunidades à parte, como formas familiares e de sobrevivência alternativas etc.) não mais como uma fase passageira de dificuldades, mas como recusa permanente de se adaptar, de se ‘enquadrar’ (ABRAMO, 1997, p. 31).
A resposta do Estado à mobilização e à maior participação político-social dos jovens foi a execução de uma contrapolítica ofensiva e violenta de controle policial, visando à total supressão desses movimentos.
A imagem da juventude ativa dos anos 60 e 70 acabou passando por uma reelaboração positiva e foi apontada como modelo ideal de participação jovem transformadora, idealista, inovadora e utópica, que vai se contrapor à imagem estereotipada dos jovens dos anos 80, como geração individualista, consumista, conservadora, indiferente e apática. “Uma geração que recusava-se a assumir o papel de inovação cultural que agora, depois da reelaboração feita sobre os anos 60, passava a ser atributo da juventude como categoria social” (ABRAMO, 1997, p. 31).
Apesar dessa imagem formada sobre os jovens dos anos 80, o Estado não cedeu em nada no exercício de seu papel controlador, especialmente ao lidar com jovens pertencentes ou ligados aos grupos surgidos em estratos populares (as gangues juvenis, de punks, as “galeras” de modo geral) e com jovens de vivência e expressão urbanas, principais vítimas da deterioração da qualidade de vida, que atinge principalmente as camadas populares, e do empobrecimento generalizado da população latino-americana.
A preocupação generalizada com aspectos e fatos (isolados) que associam a juventude à violência, ou às drogas, faz multiplicar as proposições normativas visando a disciplinar essas relações causais. As drogas, a violência e o desemprego passaram a ser considerados os problemas e as vulnerabilidades sociais máximas de nosso tempo.
Diante deste quadro, e a fim de confiná-lo em uma moldura socialmente confortável, várias políticas de compensação social foram criadas. Ainda que nenhuma destas políticas tenha sido catalogada como “exclusivamente para jovens”, o foco e a prioridade principal delas foram, especialmente, os jovens oriundos de setores “excluídos”, que apresentavam condutas consideradas delinqüentes. O enfoque adotado contribuiu, assim, fortemente para manter – até os dias de hoje – o estigma problematizador da condição juvenil.

7.4 – O Ano Internacional da Juventude, as discussões sobre as PPJ’s começam a assumir um caráter mais amplo

Em 1985 a ONU declarou o ano Internacional da Juventude, possibilitando uma ampla discussão sobre o tema. Um dos frutos dessa discussão foi, em 93, o PRADJAL (Programa Regional para o Desenvolvimento da Juventude na América Latina para 95 e 2000), que foi gerenciado pela Organização Ibero Americana de Juventude. OIJ.
Esse documento envolvia diversos temas para ações nas áreas da educação, emprego, capacitação para o trabalho, saúde, meio ambiente, participação e institucionalidade pública, direito, integração regional e o mais importante: o envolvimento do jovem nas formulações e nas execuções de programas destinados a eles.
O PRADJAL seria um documento em que todos os países da América Latina se comprometeriam com ações para facilitar a inserção do Jovem na sociedade. Além disso, o acordo previa que os países criariam organismos responsáveis por elaborar e articular as Políticas públicas destinadas a Juventude. O Brasil foi signatário desse acordo.
A maioria dos países Latino Americanos criou organismos para pensar a política Nacional de Juventude. Alguns criaram institutos, outros Coordenadorias, Secretarias e até Ministérios.
O esforço generalizado, na década de 90, para colocar a questão dos jovens na agenda dos governos, leva à criação de vários organismos na América Latina em geral (exceto Brasil e Honduras), voltados exclusivamente para firmar uma política de juventude.
A partir da atuação da Organização Ibero-americana da Juventude (OIJ), que alcançou status de organismo de direito internacional, a discussão da questão juvenil passou a ser incluída na pauta de reuniões de chefes de Estado da América Ibérica, e houve um movimento no sentido de construir novos e consolidar os existentes organismos nacionais de juventude, através da qualificação de recursos humanos, da criação de marcos conceituais e de mecanismos para implementar estas políticas e – com menor êxito – da busca de financiamentos diretos para as políticas de juventude (BANGO, 2003).
No Brasil, em 1983, a CNBB já havia criado o Setor de Juventude, com o objetivo de assumir mais concretamente as orientações da Igreja na América Latina. Assumiu a Pastoral Orgânica da Juventude, tendo o jovem como protagonista de sua ação evangelizadora, visando favorecer a articulação dos jovens a partir dos ambientes onde vivem. Não é uma ação planejada para jovens e, sim, a partir deles (as) “jovens evangelizando jovens” com acompanhamento de assessores.
No Ano Internacional da Juventude (1985), criou-se o Dia Nacional da Juventude (DNJ).  Desde então, o DNJ é celebrado todos os anos, reunindo milhares de jovens em todo o país.
Em 1989, a coordenação nacional da Pastoral da Juventude do Brasil, decidiu criar uma Secretaria Nacional, com um (a) jovem eleito em Assembléia. Organiza, também, o jornal “Juventude” destinado aos grupos de jovens.
O tema da juventude foi introduzido na Assembléia Nacional Constituinte de 1988, ao ser encaminhada a Emenda Popular “Criança Prioridade Nacional”, resultou na criação, naquele mesmo ano, do Fórum Permanente de Entidades Não-governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, que culminou com a promulgação da Lei Nº 8.069 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 13 de julho 1990.
O ECA – que muito contribuiu para garantir os direitos e deveres da criança e do adolescente, ao incorporar o conceito de cidadania – é considerado a mais acabada proposta do governo para as crianças e os adolescentes do país, pois responsabiliza a família, a sociedade e o Estado pelo cumprimento ou não dos direitos e deveres que lhes são cabidos. O art. 5º assim determina que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei, qualquer atentado por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais.
Embora tenha feito avançar de modo significativo a discussão sobre as políticas de juventude, o ECA jogou para uma zona nebulosa a discussão sobre os direitos dos jovens que atingem a maioridade legal.
Em 1992, a CNBB realiza a Campanha da Fraternidade com o tema: Fraternidade e Juventude, e com o Lema: Juventude Caminho Aberto.
Nos anos de 1998 a 2000, havia cinco organismos de juventude espalhados pelo Brasil, dois estaduais e três municipais: ES, SP, GO, RJ, TO, e RS. Nesse ano a OIJ promoveu um encontro que possibilitou uma discussão entre esses organismos e concluíram pela necessidade de se criar uma Organização Nacional de Juventude que pudesse dar apoio e suporte possibilitando a formação de organismos em todo o país. Com gestores mais qualificados, identificados com o tema e com melhores condições de implementação das políticas públicas.

7.5 – Tem início uma melhor definição sobre PPJ’s

De 2001 a 2004, organizou-se o Grupo Técnico Cidadania dos Adolescentes, constituído por diferentes tipos de entidades – ONGs, órgãos da administração pública de todas as esferas, sindicatos, confederações de trabalhadores e sistemas de formação profissional – criado a partir de uma iniciativa do Unicef, com o objetivo de elaborar propostas de políticas públicas para adolescentes de baixa escolaridade e baixa renda.
Em 2002, o GT formulou um conjunto de propostas de políticas para adolescentes de baixa escolaridade e baixa renda debatidas em teleconferência nacional que reuniu cerca de 1.500 participantes de todas as regiões do país. O conjunto das contribuições dos participantes foi sistematizado e possibilitou a elaboração de uma publicação, apresentada aos candidatos que chegaram ao segundo turno da eleição presidencial de 2002.
Ao longo de 2003, as propostas foram apresentadas aos mais diversos Ministérios (Educação, Assistência Social, Cultura, Desenvolvimento Agrário, Esporte e Trabalho), que indicaram representantes para participarem das reuniões do Grupo Técnico.
Quanto à discussão mais específica de políticas públicas de juventude, num fato inédito, e como prova mais contundente do processo de institucionalização dessas políticas e sua agenda, foi criada, em 2003, na Câmara Federal, a CEJUVENT – Comissão Especial de Juventude, destinada a estudar e propor Políticas de Juventude, sendo responsável por um processo de consulta pública que envolveu jovens, especialistas e gestores públicos com o objetivo de construir os marcos legais que definissem os direitos dos jovens. Como resultado deste processo, foram enviados à Câmara dos Deputados os seguintes projetos de lei: Plano Nacional de Juventude (PL nº 4530/2004), Estatuto da Juventude (PL nº 4529/2004) e a Proposta de Emenda Constitucional nº 138 (PEC 138) para inclusão do termo “juventude” na Constituição Brasileira de 1988.
Simultaneamente, ao lado de iniciativas de atores diversos (UNESCO, universidades, Ongs, institutos empresariais e outros) o Instituto Cidadania em (de 2003 a 2005) promoveu um amplo programa de estudos, pesquisas, discussões e seminários em vários Estados, cujas conclusões, sob o nome Projeto Juventude, seriam apresentadas ao Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. E, sob a coordenação da Secretaria Geral da Presidência da República, em 2004, era organizado um Grupo Interministerial tendo tais políticas como pauta.

7.6 – O início de uma nova etapa
         Criação da Secretaria Nacional de Juventude
         e do Conselho  Nacional de Juventude

O Grupo Interministerial, coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República e composto por 19 ministérios, levantou os principais programas federais para esse segmento populacional e realizou um diagnóstico da situação dos jovens brasileiros. Um resultado imediato do trabalho foi a definição da Política Nacional de Juventude, cuja implementação é coordenada pela Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República. O momento, portanto, revelou a prioridade conferida à juventude, estimulou o desenvolvimento de novas ações e a consolidação de práticas que buscam garantir direitos e oferecer oportunidades aos jovens brasileiros.
Até a década de 90, pode-se dizer que a preocupação dos atores políticos não saía do plano da atenção aos “problemas sociais” relacionados aos jovens, não resultando numa tentativa de realizar um entendimento mais aprofundado deste setor, nem na formulação de políticas específicas.
O reconhecimento dos jovens como “sujeitos de direitos” foi um avanço fundamental para superar a visão antes predominante nas ações governamentais. Vale um destaque especial para o papel cumprido pelo Projeto Juventude que aproveitou a janela de oportunidade aberta pelo Presidente Lula para inserção do tema na agenda de decisão do Governo Federal e organizou um amplo processo de debate envolvendo os principais atores políticos e especialistas, culminando na formulação das bases para uma Política Nacional de Juventude.
Ainda em 2004, Secretários e Gestores de Políticas Públicas de Juventude do Brasil, reunidos em Fortaleza-CE, no dia 05 de julho, após a criação do “Fórum Nacional de Secretários e Gestores de Juventude “ instância de articulação política para o fortalecimento e consolidação das políticas públicas de juventude em nosso País, considerando que o enfrentamento das desigualdades sociais em nosso País só poderá constituir-se em pauta política de primeira grandeza, caso o tema Juventude assuma o necessário e merecido destaque, apresentaram as seguintes propostas, manifestações e reivindicações:
1 – Criação de uma Secretaria Nacional de Juventude, vinculada à Presidência da República;
2 – Fortalecimento dos Órgãos Gestores e Secretarias de Juventude existente, aliado a um trabalho junto aos demais Governadores para a criação em todas as Ufs;
3 – Articulação permanente do Fórum de Secretários e Gestores Estaduais de Juventude junto ao Organismo de Juventude a ser criado no Governo Federal;
4 – Cadastro Único da Juventude;
5 – Criação de Órgãos Gestores Municipais de Juventude;
6 – Criação do Conselho Nacional de Juventude e respectivos Conselhos Estaduais e Municipais.
 
7.6.1 – Secretaria Nacional de Juventude

Em 30 de junho 2005, foi instituída (através da Lei Nº 11.129) a Secretaria Nacional de Juventude e o Conselho Nacional de Juventude, ambos vinculados à Presidência da República. A implantação da Política Nacional de Juventude é fruto da reivindicação de vários movimentos juvenis, de organizações da sociedade civil e de iniciativas do Legislativo e do governo federal.
Vinculada à Secretaria-Geral da Presidência da República, a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) é responsável por articular os programas e projetos, em âmbito federal, destinados aos jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos; fomentar a elaboração de políticas públicas para o segmento juvenil municipal, estadual e federal; interagir com os poderes judiciário e legislativo na construção de políticas amplas; e promover espaços para que a juventude participe da construção dessas políticas.
A Secretaria também coordena o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), criado na mesma Lei.
A partir de ampla pesquisa das condições socioeconômicas do jovem brasileiro, foram identificados nove desafios para nortear a consolidação da Política Nacional de Juventude:
- Ampliar o acesso ao ensino e a permanência em escolas de qualidade;
- Erradicar o analfabetismo;
- Preparar para o mundo do trabalho;
- Gerar trabalho e renda;
- Promover uma vida saudável;
- Democratizar o acesso ao esporte, ao lazer, à cultura e à tecnologia da informação;
- Promover os direitos humanos e as políticas afirmativas;
- Estimular a cidadania e a participação social;
- Melhorar a qualidade de vida no meio rural e nas comunidades
tradicionais.
A Secretaria Nacional de Juventude, além do papel de integrar programas e ações em âmbito nacional, vem se constituindo em referência da população jovem no governo federal, tal como ocorre em vários estados e municípios do Brasil e em vários países que adotam políticas públicas voltadas para a juventude.

7.6.2 – Conselho Nacional de Juventude

O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), criado na estrutura da Secretaria Geral, em 30 de junho de 2005, é um espaço de diálogo entre a sociedade civil, o governo e a juventude brasileira, tendo a finalidade de formular e propor diretrizes da ação governamental voltadas à promoção de políticas públicas para a juventude. É um órgão consultivo e tem o objetivo de assessorar a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) da Secretaria Geral da Presidência da República na formulação de diretrizes da ação governamental; promover estudos e pesquisas acerca da realidade socioeconômica juvenil; e assegurar que a Política Nacional de Juventude do Governo Federal seja conduzida por meio do reconhecimento dos direitos e das capacidades dos jovens e da ampliação da participação cidadã.
O Conjuve, foi formalizado através do Decreto nº 5.490, de 14/07/05, é formado por representantes do poder público e da sociedade. A sociedade civil é representada por dois terços dos membros do Conselho e participa por meio de entidades, movimentos e redes de jovens, de organizações não-governamentais que trabalham com os mais diversos segmentos juvenis e de especialistas na temática da juventude. Também integram o Conselho os Ministérios que desenvolvem programas e ações voltados para a juventude, representantes do Fórum de Gestores Estaduais e da Frente Parlamentar de Políticas Públicas de Juventude e das entidades municipalistas.
A constituição do Conselho transforma em política de Estado a questão da juventude e revela um consistente pacto pelos direitos dos jovens.
A perspectiva é consolidar a Política Nacional de Juventude como uma política de Estado, incidindo com mais força na agenda pública e, portanto, inserida definitivamente no contexto de um projeto de país.
Esta política nacional está só começando. É importante reconhecer que as políticas públicas de juventude não estão, em nenhum nível de governo, prontas e acabadas. Elas precisam de avaliação e aperfeiçoamento constantes e permanentes.
A idéia, conceitualmente superada, de que os jovens são um “problema” e devem ser tutelados por políticas de controle e prevenção continua viva em programas e projetos, sejam eles governamentais ou não. Esse tipo de abordagem conservadora coexiste atualmente com a noção emancipatória de que os jovens são sujeitos de direitos. Além disso, o interesse pela juventude ainda convive com o desconhecimento e o descaso.
Sabemos que grande parte dos meios de comunicação de massa cumpre um papel importante em pautar na agenda política, sem contestação, visões estereotipadas e estigmatizadas sobre os jovens. Para alcançar novos avanços e evitar retrocessos, não há outra fórmula: participação e conhecimento.
Contudo o atual desenho institucional, em que pese seu caráter de política em construção, aprofundou-se já em algumas  trilhas interessantes: além da Secretaria, do Conselho e da integração dos programas, a Conferência Nacional de Juventude, a partir do sucesso da primeira edição convocada e organizada pelo Executivo, consolidou-se como a máxima instância de participação, sendo o instrumento para partilhar deliberações, facilitar o processo de negociação entre interesses divergentes e um espaço privilegiado de controle social das ações desenvolvidas pelo Governo.
As formulações atuais precisam ser aprofundadas ou mesmo questionadas, possibilitando a capacidade de criar um ciclo permanente de debates através da circulação permanente de informação de alta credibilidade.
Afinal de contas, as soluções oferecidas pela política pública são formuladas a partir de como determinados problemas são estruturados e reconhecidos pelas autoridades públicas.


7.7 – Jovens como sujeitos de direitos  
(extraído do caderno sobre a Política Nacional de Juventude)


A juventude é uma condição social, parametrizada por uma faixa-etária, que no Brasil congrega cidadãos e cidadãs com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos. Sendo tema de interesse público, a condição juvenil deve ser tratada sem estereótipos e a consagração dos direitos dos/das jovens precisa partir da própria diversidade que caracteriza a(s) juventude(s). Em termos políticos e sociais, os e as jovens são sujeito de direitos coletivos. Sua autonomia deve ser respeitada, suas identidades, formas de agir, viver e se expressar valorizadas.
Os desafios no reconhecimento dos direitos dos jovens são muitos. O mais difícil de ser superado é a própria dubiedade advinda das contraditórias representações sociais sobre a condição juvenil. Não é exagero afirmar que a sociedade contemporânea é, paradoxalmente, “juventudocêntrica”, ao mesmo tempo em que é crítica da juventude. Em outras palavras, nos aspectos da vivência pessoal e da consciência coletiva, ser jovem é um “estado de espírito”, uma dádiva, um “dom” de um momento passageiro da vida que não deveria passar, por ser o mais “interessante” e “vibrante”. Desse modo, ser jovem é ser empreendedor, expressar força, ter ânimo, se aventurar, ser espontâneo, ter uma boa apresentação física, ser viril, se divertir acima de tudo, priorizando o “bem viver” em detrimento das responsabilidades mesquinhas da vida. Contudo, no âmbito profissional, no aspecto do compromisso cidadão ou no tocante à participação nos processos de tomada de decisão (inclusive nas esferas políticas) ser jovem é residir em um incômodo estado de devir, justificado socialmente como estágio de imaturidade, impulsividade e rebeldia exarcebada. Nesse caso, é possível afirmar que o jovem é aquele que ainda não é, mas que pode ser, ou que será. Em síntese, são dois lados da mesma moeda. Os mesmos estereótipos que constroem um imaginário social de valorização da juventude são aqueles que a impedem de uma participação social plena.
A manutenção dos estereótipos dificulta a ação política. Em termos gerais, ser jovem é uma condição social com qualidades específicas e que se manifesta de diferentes maneiras, segundo características históricas e sociais. No aspecto da categoria etária, ainda que se incorra em imprecisões (pois em algum nível toda categorização é, obrigatoriamente, imprecisa e injusta) é considerado jovem no Brasil o cidadão ou
cidadã com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos.
No entanto, a classificação etária serve apenas como um parâmetro social para o reconhecimento político da fase juvenil, servindo como uma referência imprescindível e genérica para a elaboração de políticas públicas. Em um entendimento mais amplo, ser jovem no Brasil contemporâneo é estar imerso (por opção ou por origem) em uma multiplicidade de identidades, posições e vivências. Daí a importância do reconhecimento da existência de diversas juventudes no país, compondo um complexo mosaico de experiências que precisam ser valorizadas no sentido de se promover os direitos dos/das jovens.
Se a questão do reconhecimento dos direitos específicos da juventude já exige a superação de pré-conceitos, obrigando o convencimento da opinião pública, a consideração das diversas identidades juvenis como alicerce desse conjunto de direitos torna o quadro ainda mais complexo.
Na cultura política moderna, a noção de “direito” foi a criação social que personificou e sintetizou a promoção da igualdade. Na querela entre dominadores e dominados, em seus diferentes momentos e contextos históricos, o direito emergiu (especialmente a partir da Revolução Francesa) como a expressão de um contra-poder político simbólico e prático. Todo ser humano reconhecido como cidadão ou cidadã passou a ser um portador de direitos. Isso serviu para garantir formalmente a igualdade de condição social, levando a uma diminuição gradativa na distância entre a elite e as classes populares, por meio da promoção de oportunidades iguais de acesso às experiências, conhecimentos e patrimônios econômicos produzidos e acumulados pelas sociedades.
É devido à ação discursiva e concreta do “direito”, como ferramenta pública, que as lutas por sua consagração, efetivação e ampliação podem ser entendidas como a expressão (por excelência) da cultura política dos nossos tempos. A partir de uma geração de direitos outra é criada, em um jogo dinâmico em que a consolidação de uma abre espaço para a emergência da outra. A primeira geração foi a que consagrou os direitos civis e políticos, depois veio a segunda, marcando a emergência dos direitos sociais e, por último, como produto da ação de diversos movimentos sociais nas últimas décadas do século XX, é reconhecida há certo tempo (inclusive em nossa Constituição Federal) a terceira geração direitos, caracterizada pela consagração dos direitos difusos. Ao contrário das duas outras gerações, seus titulares são grupos sociais como negros, mulheres, homossexuais, crianças, adolescentes, jovens e idosos, e não mais indivíduos. A função desses direitos é a de garantir condições para que esses grupos sociais possam existir e se desenvolver integralmente, sem serem subjugados ou discriminados.
É importante destacar que é exatamente pelo fato dos detentores dos direitos de terceira geração serem grupos sociais, sua violação compromete o conjunto da sociedade. Por exemplo, não se pode falar de uma sociedade livre, se as mulheres, as crianças, os negros, os homossexuais ou os jovens são reprimidos ou estereotipados dentro dela.
Com a consagração dos direitos difusos, o mundo político sofre forte mudança em sua orientação pública. Se os tempos modernos se caracterizaram pela busca da igualdade por meio da consagração de direitos individuais, no mundo contemporâneo a matriz política é definida pelo reconhecimento e valorização da diferença e das identidades coletivas.


Segundo o Artigo 6º da Constituição Federal de 1988 são considerados direitos sociais os direitos à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, cultura, segurança, proteção à maternidade e assistência aos desamparados.
É, precisamente, pelo fato de serem direitos atribuídos a grupos sociais e não a indivíduos que são chamados de “difusos”.
Por seu caráter coletivo, também são direitos de terceira geração a preservação ambiental, cultural e histórica.


No caso das juventudes, a necessidade de articular a busca da igualdade individual de condições com a valorização da diferença é atributo essencial para a afirmação de direitos e,
conseqüentemente, para a elaboração e implementação de políticas públicas. Nesse sentido, o primeiro passo é evitar o uso de um par de oposição (bastante comum e inadequado): igualdade x diferença. O oposto de igualdade é desigualdade e não diversidade. Subjacente a essa premissa reside o desafio de se fazer com que a sociedade compreenda que os jovens, sendo sujeitos de direitos e promotores e destinatários de políticas públicas, não aceitam participar de programas e projetos que pressuponham e/ou produzam aculturação e normatização de suas práticas sociais, modos de ser e identidades.
Nesse sentido, e a grosso modo, considerando o fato dos jovens comporem o contingente populacional mais vitimizado pelas distintas formas de violência presentes no Brasil; enfrentarem enormes dificuldades de ingresso e permanência no mercado de trabalho; sofrerem impedimentos no acesso a bens culturais; não terem assegurado o direito a uma educação de qualidade e não receberem tratamento adequado no tocante as políticas públicas de saúde e lazer, o reconhecimento de seus direitos deve estar alicerçado em uma perspectiva ampla de garantia de uma vida social plena e de promoção de sua autonomia. Portanto, seu desenvolvimento integral é legítimo e de interesse de todo o conjunto da sociedade.
Considerando os jovens como sujeitos de direito, evita-se qualquer entendimento de que a juventude é uma faixa-etária
problemática, essencialmente por ser a mais comum vítima dos problemas socioeconômicos do país. Evita-se também sua idealização no sentido de entendê-la como a única protagonista da mudança, em uma nova interpretação heróica de seu papel mítico.
A juventude brasileira é fruto da sociedade brasileira e, em tempos de globalização e rápidas mudanças tecnológicas, deve ter condições, oportunidades e responsabilidades específicas na construção de um país justo e próspero.


7.8 – Principais Programas e Projetos da Política Nacional  
         de Juventude
(informações do documento base da 1ª Conferência Nacional de Juventude)

PROJOVEM: visa ampliar o atendimento aos jovens entre 15 e 29 anos fora da escola e sem formação profissional. Criado a partir da integração de seis programas já existentes (Agente Jovem, Saberes da Terra, Projovem, Consórcio Social da Juventude, Juventude Cidadã e Escola de Fábrica) tem como meta ampliar os atuais 467 mil jovens atendidos para atingir 4,2 milhões de jovens até 2010. Vai funcionar nas modalidades Projovem Adolescente, Projovem Urbano, Projovem Campo e Projovem Trabalhador.

ProUni – Programa Universidade para Todos: maior programa de bolsas de estudo da história brasileira. Em um ano e meio, ofereceu 203 mil jovens de baixa renda o acesso em mais de 1.100 instituições de ensino superior privado em todo o país.

Programa Livro Didático para Ensino Médio: distribuiu materiais educativos para 1,3 milhões de estudantes em 2005 e para 7.5 milhões em 2006.

Proeja: programa de educação profissional integrada ao Ensino Médio que tem como finalidade ampliar a oferta de vagas nos cursos de educação profissional a jovens e adultos que não tiveram acesso ao ensino regular.

Programa Brasil Alfabetizado: promoção de alfabetização de jovens a cima de 15 anos. Os cursos são realizados por instituições de ensino em um período de oito meses.

Soldado Cidadão: oferece cursos de capacitação e formação profissional para jovens recrutas prestando serviço militar. Em 2005, foram formados 58 mil soldados. Em 2006, mais de 100mil formados.
Segundo Tempo: promove o acesso de crianças e jovens da rede pública ao ensino e à prática esportiva, assegurando a eles complemento alimentar, reforço escolar e material esportivo. Até hoje, somam-se 1,1 milhão de benefícios.

Escola Aberta: oferece atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer em escolas públicas do Ensino Médio e Fundamental, que são abertas nos fins de semana exclusivamente para atender a comunidade. Aos coordenadores das oficinas é paga uma ajuda de custo mensal de R$ 150,00.

Pontos de Cultura: implementa e moderniza espaços culturais, permanentes ou itinerantes. Atualmente, existem cerca de 600 Pontos de Cultura no país. A cada um são repassados R$185 mil para a realização de atividades e compra de equipamentos.

Bolsa Atleta: oferece bolsas mensais que variam de R$300,00 a R$2500,00 durante um ano, com possibilidade de renovação para aqueles que se destacam em competições de nível estudantil e que ainda não tenham patrocínio.

Nossa Primeira Terra e Pronaf Jovem: asseguram crédito e financiamentos com juros subsidiados para compra de imóveis rurais, projetos de diversificação econômica e agregação de valor na agricultura familiar, para jovens que queiram permanecer no meio rural.

Programa Juventude e Meio Ambiente: formação e fortalecimento de lideranças ambientalistas jovens em cinco eixos: educação ambiental, fortalecimento organizacional, educomunicação, empreendedorismo e participação política. A capacitação é feita de forma presencial e à distância.

Saúde do Adolescente e do Jovem: o Ministério de Saúde, por meio da Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem, vem elaborando políticas nacionais integradas, principalmente com a participação juvenil, voltadas para a promoção, proteção e recuperação da saúde de adolescentes e jovens, de forma a garantir uma atenção integral à saúde desta população. Isso significa reduzir as principais doenças e agravos, melhorar a vigilância à saúde e contribuir para a qualidade de vida destes 54 milhões de jovens na faixa etária entre 10 e 24 anos de idade.

7.9 – Realização da 1ª Conferência Nacional de Juventude

Lançada oficialmente em setembro de 2007, a 1ª Conferência Nacional de Juventude mostrou que os brasileiros querem participar dos espaços da política. Segundo balanço feito pela Secretaria Nacional de Juventude no final da fase preparatória, foram realizadas conferências em 841 cidades de todo o país, totalizando 406 mil pessoas envolvidas. A Conferência Nacional aconteceu de 27 a 30 de abril, em Brasília (DF).
Os resultados desta Conferência comprovam também no quesito participação que basta oferecer oportunidade para o exercício deste direito que a juventude responde a altura.
Esta grande participação legitimou a plataforma de políticas públicas de juventude construída na etapa nacional.
O Caderno de Propostas condensou mais de 4.500 sugestões elaboradas nas etapas estaduais e conferências livres em 480 proposições-síntese organizadas em 16 temas.
Foi o resultado da fase preparatória do processo da Conferência e serviu como base das discussões do momento nacional.
Mais de 16 temas foram abordados no caderno, entre eles está à questão das drogas, sexualidade e saúde, mídia, comunicação e tecnologias da informação e povos e comunidades tradicionais.  
Do total das conferências, o maior número registrado foi de conferências municipais, com 596 preparatórias e 245 eletivas realizadas. Estas últimas diferem das primeiras por terem a prerrogativa de escolher delegados à etapa nacional e pelo fato de possuírem órgãos de juventude, como secretarias, coordenações, assessorias ou conselhos. Por elas passaram 224 mil pessoas.
Nos estados, o envolvimento também foi positivo. Todas as 27 Unidades da Federação realizaram conferências mobilizando mais de 39 mil pessoas, sendo 15 mil nas atividades de lançamento e 24 mil nas conferências.
Um dos destaques da Conferência no envolvimento da juventude foram as conferências livres. Esta modalidade inovou as formas de participação ao possibilitar que qualquer entidade ou instituição realizasse debates.
Em quatro meses, os 882 eventos deste tipo envolveram mais de 400 organizações. Os principais promotores foram os movimentos sociais e as ONGs, seguidos dos mandatos parlamentares e programas de governo.

A 1ª Conferência Nacional de Juventude aprovou 69 resoluções e 22 prioridades, as quais destacamos a seguir de acordo com os temas debatidos:

Jovens Negros e Negras

1 - Reconhecimento e aplicação, pelo poder público, transformando em políticas públicas de juventude as resoluções do 1º Encontro Nacional de Juventude negra (ENJUNE), priorizando as mesmas como diretrizes étnico/raciais de/para/com as juventudes.

2 - Responsabilizar o estado e implementar políticas específicas de extinção do genocídio cotidiano da juventude negra que se dá pelas políticas de segurança pública, ação das polícias (execução sumária dos jovens negros/as e tortura), do sistema prisional e a ineficácia das medidas sócio-educativas que violam os direitos humanos; e de saúde, que penaliza especialmente a jovem mulher negra.

3 - Aprovação imediata do Estatuto da Igualdade Racial, com a criação de um fundo governamental para o financiamento de suas políticas.


Educação Básica – Elevação da Escolaridade


1 - Destinar parte da verba da educação no ensino básico para o modelo integral e pedagógico do CIEP’s (Centros In­tegrados de Educação Pública).

2 - Que se garanta para todos os níveis e modalidades de ensino a merenda escolar, transporte escolar e o passe livre para a juventude e estudantes.

3 - Ampliar os recursos vinculados ao PIB para a educação pública, gratuita e de qualidade (10% do PIB), acabando com a DRU.

Fortalecimento Institucional
da Política de Juventude

1 - Aprovação pelo Congresso Nacional do marco legal da juventude: regime de urgência da PEC n.º 138-B/2003, Plano Nacional de Juventude e Estatuto dos Direitos da juventude PL 27/2007.


2 - Criar o Sistema Nacional de Políticas Públicas de Juventude que confira status de Ministério à Secretaria Nacional de Juventude, exigindo que a adesão de estados e municípios seja condicionada à existência de órgão gestor específico e respectivo conselho de juventude. A partir de dezembro de 2009, os recursos do fundo nacional de juventude, do projovem e demais programas de juventude, apenas continuarão a ser repassados aos estados e municípios que aderirem ao sistema.

3 - Aprovar a PEC da juventude, o Plano Nacional de Juventude e o Estatuto da Juventude e criar o fundo nacional de juventude e órgãos da juventude, com orçamento próprio, em todos os municípios e estados.

Meio Ambiente
1 – Criar uma política nacional de juventude e meio ambiente que inclua o “programa nacional de juventude e meio ambiente”, institucionalizado em PPA (Plano Plurianual), com a participação dos jovens nos processos de construção, execução, avaliação e decisão, bem como da Agenda 21 da juventude que fortaleça os movimentos juvenis no enfrentamento da grave crise ambiental global e planetária, com a construção de sociedades sustentáveis.

2 - Qualificar a juventude nas áreas ambientais, ultilizando recursos como do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), entre outros, para atuarem em projetos de educação ambiental, unidades de conservação, ecoturismo, recuperação das áreas degradadas dentre outras.

3 - Criação e ampliação de assentos para juventude assegurados com direito a voto em todos os conselhos, comitês e órgãos de fiscalização, deliberação e gestão nas áreas socioambiental e de desenvolvimento, nas esferas municipais, estaduais e federal.

Esporte
1. Ampliar e qualificar os programas e projetos de esporte, em todas as esferas públicas, enquanto políticas de estado, tais como os programas esporte e lazer da cidade, bolsa atleta e segundo tempo com núcleos nas escolas, universidades e comunidades, democratizando o acesso ao esporte e ao lazer a jovens, articulados com outros programas existentes.

2. Criação de centros públicos e gratuitos de juventude, a partir da construção ou reutilização de espaços públicos, priorizando a descentralização dos municípios pólos, dotados de infra-estrutura de esporte (praças da juventude, quadras poli-esportivas, clubes aquáticos), lazer, cultura (locais para apresentação, sala de cinema e biblioteca) e acesso aos meios tecnológicos, respeitando a realidade local.

3. Vinculação de, no mínimo, 1% do orçamento para o esporte, na união nos estados e municípios.

Juventude do Campo

1 - Garantir o acesso a terra ao jovem e à jovem rural, na faixa etária de 16 a 32 anos, independente do estado civil, por meio da reforma agrária, priorizando este segmento nas metas do programa de reforma agrária do Governo Federal, atendendo a sua diversidade de identidades sociais, e, em especial aos remanescentes de trabalho escravo. É fundamental a revisão dos índices de produtividade e o estabelecimento do limite da propriedade para 35 módulos fiscais.

2 - Garantia de políticas públicas integradas que promovam a geração de trabalho e renda para o jovem e a jovem do campo, com participação da juventude na sua elaboração e gestão. Assegurando o acesso a terra, à capacitação e ao desenvolvimento de tecnologia sustentável apropriada à agricultura familiar e camponesa voltada para a mudança de matriz tecnológica. Transformar o Pronaf Jovem em uma linha de crédito para produção agrícola e não agrícola.

3 – Efetivar a educação do e no campo, pública, gratuita e de qualidade. Implementando as diretrizes operacionais da educação do campo, garantindo infra-estrutura e mudança curricular que contemple a diversidade regional, atendendo todos os níveis (básico, profissionalizante e superior), em especial investindo no fim do analfabetismo no meio rural. Que o estado assuma os custos dos centros familiares de formação por alternância e outras iniciativas de educação do campo, da sociedade civil sem fins lucrativo voltadas para juventude da agricultura familiar e camponesa.
Trabalho

1 - Reduzir a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem redução de salários, conforme campanha nacional unificada promovida pelas centrais sindicais.

2 - Crédito para a juventude e construção de um marco legal que viabilize o cooperativismo, a economia solidária e o empreendedorismo da juventude do campo e da cidade, desburocratizando o acesso ao crédito, formação e ao mercado consumidor.

3 - Ampliar os programas governamentais, voltados ao primeiro emprego, garantindo a co-gestão da sociedade civil e reformular as leis do estágio e do aprendiz, visando garantir os direitos trabalhistas e convenções coletivas, para os jovens da cidade e do campo, respeitando as realidades regionais.

Ensino Superior

1- Defendemos que a ampliação do investimento em educação é fator imprescindível para construirmos uma educação de qualidade para todos e todas e que consiga contribuir para o desenvolvimento do país. Para tanto, defendemos o investimento de 10% do pib em educação. Para atingir este percentual reivindicamos o fim da Desvinculação das Receitas da União (DRU) e a derrubada dos vetos ao PNE (Plano Nacional de Educação). Reivindicamos que 14% dos recursos destinado as Universidades Federais seja destinado exclusivamente à assistência estudantil por meio da criação de uma rubrica específica. Defendemos também a ampliação dos recursos em assistência estudantil para estudantes do Prouni e para estudantes de baixa renda de universidades privadas. Garantir a transparência e democracia na aplicação dos recursos.

2 - Garantir o acesso e permanência dos estudantes excluídos priorizando as cotas, os programas que garantem a inclusão dos jovens ao ensino superior e aperfeiçoamento do Prouni. Expansão e interiorização das universidades públicas (municipais, estaduais e federais) considerando a realidade regional, visando às demandas das comunidades do campo e tradicionais, tendo em vista a ampliação e oferta de cursos noturnos diversificados, bem como a implementação de política de assistência estudantil (restaurante universitário, bolsa permanência, transporte e moradia estudantil) e a valorização dos profissionais de educação.

3- Democracia nas universidades: com eleições paritárias para reitoria, com o fim da lista tríplice, eleições universais para demais unidades acadêmicas e cargos eletivos, composição paritária dos conselhos e espaços decisórios das instituições, e garantia de organização do movimento estudantil com livre transito dos diretores das entidades no âmbito público e privado.

Cultura
1 - Criação, em todos os municípios, de espaços culturais públicos, descentralizados, com gestão compartilhada e financiamento direto do estado, que atendam às especificidades dos jovens e que tenham programação permanente e de qualidade. Os espaços sejam eles construções novas, desapropriações de imóveis desocupados ou organizações da sociedade civil já estabelecidas, devem ter condições de abrigar as mais diversas manifestações artísticas e culturais, possibilitando o aprendizado, a fruição e a apresentação da produção cultural da juventude. Reconhecer e incentivar o hip-hop como manifestação cultural e artística.

2 - Estabelecimento de políticas públicas culturais permanentes direcionadas à juventude, tendo ética, estética e economia como pilares, em gestão compartilhada com a sociedade civil, a exemplo dos pontos de cultura, que possibilitem o acesso a recursos de maneira desburocratizada, levando em consideração a diversidade cultural de cada região e o diálogo intergeracional. Criação de um mecanismo específico de apoio e incentivo financeiro aos jovens (bolsas) para formação e capacitação como artistas, animadores e agentes culturais multiplicadores.

3 - Estabelecimento de cotas de exibição e programação de 50% para a produção cultural brasileira, sendo 15% produção independente e 20% produção regional em todos os meios de comunicação (TV aberta e paga, rádios e cinemas). Valorização dos artistas locais garantindo a preferência nas apresentações e prioridade no pagamento. Entender os cineclubes como espaços privilegiados de democratização do áudio visual.

Política e Participação
1 - Criar o Sistema Nacional de Juventude, composto por órgãos de juventude (secretarias/coordenadorias e outros) nas três esferas do governo, com dotação orçamentária específica; conselhos de juventude eleitos democraticamente, com caráter deliberativo, com a garantia de recursos financeiros, físicos e humanos; fundos nacional, estaduais e municipais de juventude, com acompanhamento e controle social, ficando condicionado o repasse de verbas federais de programas de projetos de juventude à adesão dos estados e municípios a esse sistema.

2. Garantir uma ampla reforma política que, além do financiamento público de campanha, assegure a participação massiva da juventude nos partidos políticos, com garantia de cota mínima de 15% para jovens de 18 a 29 anos nas coligações, com respeito ao recorte étnico-racial e garantindo a paridade de gênero; mudança na faixa-etária da elegibilidade garantindo como idade mínima de 18 anos para vereador, prefeito, deputados estaduais, distritais e federais e 27 anos para senador, governador e presidente da república.

3. Incentivar e implementar nas escolas e universidades mecanismos e disciplinas (discutidas com o CONJUVE e MEC) relacionadas à participação política, que estimulem o debate e a troca de informações sobre temas referentes ao governo, movimentos sociais, história, conjuntura política e econômica, cidadania e políticas públicas, exercitando e desenvolvendo assim o senso-crítico, sobretudo, sobre a realidade local.
Jovens Mulheres
1 - implementar políticas públicas de promoção dos direitos sexuais e direitos reprodutivos das jovens mulheres, garantindo mecanismos que evitem mortes maternas, aplicando a lei de planejamento familiar, garantindo o acesso a métodos contraceptivos e a legalização do aborto.

2 - Implementar políticas públicas que promovam a democratização do acesso a uma educação laica, não sexista, não racista, não lesbofóbica/homofóbica/transfóbica, não heteronormativa, democrática e anticapitalista, fortalecendo o cumprimento dessas temáticas nas grades curriculares e a valorização das diversidades nos ensinos infantil, fundamental, médio e universitário.
Para tanto: formar/capacitar/sensibilizar professoras/professores, comunidade escolar e jovens multiplicadoras/multiplicadores, revisar os materiais didáticos e para-didáticos, expandir os cursos noturnos, garantir creches em todos os turnos, ampliar os programas de alfabetização para mulheres jovens e incluir sexualidades, como disciplina nas grades curriculares.

3 - Enfrentar todas as práticas de violência contra as jovens mulheres: violência de gênero, moral, sexual, física, racial, patrimonial, doméstica, de orientação sexual e psicológica, monitorando a implementação da lei Maria da penha e da notificação compulsória, garantindo a destinação de verbas para seu funcionamento, com ênfase para criação dos juizados especializados, acionando e executando os mecanismos de coibição e penalização da exploração sexual, do tráfico para a mercantilização do corpo das mulheres, garantindo também direitos humanos às jovens em situação de prisão.
Segurança

1 - Contra a redução da maioridade penal, pela aplicação efetiva do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

2 - Assegurar, no âmbito das políticas públicas de segurança, prioridade às ações de prevenção, promoção da cidadania e controle social, reforçando a pratica do policiamento comunitário, priorizando áreas com altas taxas de violência, promovendo a melhoria da infra-estrutura local, adequadas condições de trabalho policial, remuneração digna e a formação nas áreas de direitos humanos e mediação de conflitos, conforme as diretrizes apontadas pelo Pronasci.

3 - Garantir a implementação do SINASE na aplicação e execução das medidas socioeducativas, priorizando a municipalização das medidas em meio aberto, enfatizando o caráter socioeducativo das medidas de privação de liberdade, assegurando acesso à educação, lazer, formação profissional, do lazer, formação profissional, mercado de trabalho e ao acompanhamento por profissionais qualificados, reafirmando a posição contrária ao rebaixamento da idade penal.

Povos e Comunidades Tradicionais
1 - Assegurar os direitos dos povos e comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ciganos, comunidades de terreiros, pescadores artesanais, caiçaras, faxinalenses, pomeranos, pantaneiros, quebradeiras de coco babaçu, caboclos, mestiços, agroextrativistas, seringueiros, fundos de pasto, dentre outros que buscam ser reconhecidos), em especial da juventude, preservando suas culturas, línguas e costumes, combatendo todas as práticas exploratórias e discriminatórias quanto a seus territórios, integrantes, saberes, práticas culturais e religiosas tradicionais.

2 - Pesquisar, reconhecer e inserir a história das comunidades e povos tradicionais (os reconhecidos e os que buscam reconhecimento) no sistema educacional oficial brasileiro, produzindo materiais didáticos, informativos e de audiovisual com fomento de recursos da Capes, CNPq e Secretaria Nacional de Juventude. Através da participação de representações das comunidades tradicionais na construção da matriz curricular da educação que inclua todo material didático e formação dos professores.

3 - Garantir o acesso e permanência de povos e comunidades tradicionais, em especial da juventude, nas instituições de ensino superior, por meio de programas de financiamento que garantam residência, alimentação, material didático e bolsas de estudo.
Cidadania GLBT

1 - Incentivar e garantir a SENASP/MJ a incluir em todas as esferas dos cursos de formação dos operadores/as de segurança pública e privada em nível nacional, estadual e municipal no atendimento e abordagem e no aprendizado ao respeito à livre orientação afetivo-sexual e de identidade de gênero com ampliação do Decradi – Delegacia de crimes raciais e intolerância.

2 - Criação e revisão curricular e institucional do espaço escolar para garantir o reconhecimento das especificidades das/dos jovens GLBT, de forma permanente garantindo nas escolas e universidades o reconhecimento e a valorização da livre orientação afetivo-sexual e de identidade de gênero, tais como: formação de professores em direitos humanos e nos cursos de extensão e pesquisa.

3 - Campanhas e propagandas com personagens adolescentes e GLBT sobre DST/AIDS, criação de material específico de sexo seguro para as lésbicas e capacitação contínua de profissionais de saúde para a humanização do atendimento e tratamento ao público GLBT respeitando suas especificidades.

Jovens com Deficiência

1 - Ratificação imediata da convenção sobre os direitos da pessoa com deficiência da ONU como emenda constitucional.

2 - Utilizar a comunicação para promover a inclusão, democratizar informações sobre os direitos e as especificidades de jovens com deficiência, desmistificando estigmas, garantindo o direito de expressão e maior participação de jovens com deficiência na mídia visando o combate à discriminação.

3 - Garantir a implementação e fiscalização de leis nacionais e decretos federais que tratam da inclusão e acessibilidade de jovens com deficiência, combatendo a segregação e a discriminação, buscando a equidade na diversidade, com direito à participação e formação de jovens com deficiência como líderes e agentes políticos.

Família

1 - Criar e implementar políticas públicas que atendam as necessidades da juventude sejam elas: econômicos, sociais, psicológicos, esportivos, culturais, ambientais, com objetivo de aproximar o jovem da família por meio de um centro específico para a juventude. Fomentar a existência destes espaços de referência da juventude e a capacitação de agentes que trabalhem neste local.

2 - Oferecer cursos de geração de renda para pais desempregados, proporcionando oportunidades e empregabilidade que garantam melhor qualidade de vida para a sua família eliminando a possibilidade do trabalho infantil.

3 - Garantir a efetivação do ECA, SINASE, Plano Nacional de Convivência familiar e comunitária, através da articulação de ações entre o sistema de garantia de direitos. (poder público, Conselho Tutelar, CMDCA, sociedade civil).

Drogas

1 - Garantir a criação, expansão e fortalecimento de centros permanentes especializados em tratamento para dependentes químicos e pessoas vivendo com hiv/aids, voltados ao atendimento de crianças, adolescentes e jovens de forma gratuita com qualidade, incluindo atividades lúdicas sendo essas atividades orientadas por jovens qualificados e capacitados.

2 - Reconhecer a extensão fronteiriça do Brasil, propondo maior controle no que se refere à entrada de drogas, armas e outros produtos ilegais garantindo aos profissionais de segurança, capacitação e equipamentos adequados para controle das fronteiras.

3 - Garantir acolhimento, assistência e acompanhamento psicológico, familiar e social do jovem em conflito com a lei, usuário de substancias psicoativas, incentivando a reinserção social e orientação vocacional, visando o desenvolvimento da auto estima e da reintegração do jovem de forma digna.


Sexualidade e Saúde

1- Garantir a efetivação dos direitos à saúde integral da população jovem, que contemple as suas necessidades e suas diversidades de etnia, de orientação sexual, de gênero e dos diversos modelos de família, atendendo as populações vulneráveis, promovendo a educação em saúde, com destaque nas mulheres, juventude negra, GLBTTT, jovens com deficiência, moradores de comunidades populares, jovens em situação de rua, jovens cumprindo medidas socioeducativas e jovens que vivem com HIV/AIDS; Garantir e ampliar a participação da juventude e a sua diversidade nos processos de gestão participativa e nos espaços de formulação e controle social (conselhos e conferências), incluindo os específicos de saúde indígena nas políticas públicas de saúde; Garantir mais investimento na saúde pública (regulamentação da emenda constitucional nº29), tendo em vista o fortalecimento do sus e a ampliação do acesso dos jovens nas temáticas prioritárias para a implementação de políticas públicas da saúde para a juventude destacando-se: a)drogas lícitas e ilícitas; b)sexualidade e direitos sexuais e direitos reprodutivos (gravidez na adolescência, planejamento familiar e reprodutivo, descriminalização do aborto, segurança alimentar, violência doméstica, abuso e exploração sexual). c)a inclusão da população jovem como prioridade no pacto pela vida.

2- Ampliação e\ou implementação de projetos e programas a exemplo do projeto saúde e prevenção nas escolas – SPE, que desenvolvam metodologias educativas e participativas sobre sexualidade, gênero, gravidez na adolescência, diversidade sexual, prevenção das DST/AIDS, promoção da saúde de jovens vivendo ou não com hiv\aids, direitos sexuais, direitos reprodutivos, vulnerabilidades e demais temas relativos à saúde e aos direitos humanos, garantindo a disponibilização gratuita de insumos de prevenção, bem como a efetiva formação e participação de profissionais de saúde, de educação e de jovens multiplicadores em zonas urbanas, rurais, indígenas, quilombolas e utilizando espaços como escolas, PSF, UBS, comunidades, unidades e projetos de medidas socioeducativas, bem como de mais espaços e instituições que trabalham com adolescentes e jovens, respeitando às escolhas individuais e as especificidades locais.

3 - Instituir ações de planejamento familiar e reprodutivo que contemplam os diferentes modelos de família e garantam autonomia de jovens de ambos os sexos e diferentes orientações sexuais a preserva­ção da vida das mulheres e de seus filhos e suas filhas, intensificando as ações preventivas, realizando disponibilização de preservativos e garantindo o acesso facilitado, sem burocracia, aos métodos contraceptivos, incluindo a anticoncepção de emergência, e acesso a materiais educativos, incluindo a criação e circulação de programas televisivos e campanhas direcionadas aos jovens atendendo a todas as suas especificidades, para orientação e acesso à informação sobre DST´S, HIV/AIDS de forma continuada e não pontual, construídas com e para jovens.

Tempo Livre e Lazer

1 - Criação de centros públicos e gratuitos de tempo livre e lazer, a partir da construção ou reutilização de espaços públicos, seguindo critérios de descentralização dos municípios pólos, dotados de infra-estrutura de esporte, lazer, cultura e acesso aos meios tecnológicos de forma inclusiva, garantindo o desenvolvimento local tanto nos centros urbanos, rurais, como nas regiões de vulnerabilidade.

2. Garantir 1% do orçamento nacional para o esporte e lazer.

3 - Democratizar e ampliar a construção e organização do tempo livre da juventude e sua comunidade, como política de estado, fortalecendo: i) as políticas públicas para e pelo tempo livre em escolas públicas, universidades, centros públicos, espaços comunitários; ii) a gestão compartilhada entre poder público e sociedade civil organizada e iii) a rede de pesquisa diagnóstica e avaliativa de espaços públicos e acessibilidade, que seja capaz de gerar indicadores que orientem as ações dos gestores.

Comunicação e Inclusão Digital

1 - Ampliar as concessões para rádios comunitárias garantindo a democratização e a desburocratização da comunicação, com prazo máximo de 02 (dois) anos para legalização e criar de um órgão próprio de fiscalização.

2 - Ampliar oportunidades de capacitação e qualificação de professores e jovens para a produção de projetos de comunicação e de inclusão digital, com inclusão dos jovens da periferia e de suas respectivas comunidades escolares, visando à produção, exibição e distribuição por esses jovens. Esses espaços serão administrados pelos jovens e os produtos audiovisuais e outros (jornal) deverão ser exibidos nos principais canais de tv e na comunidade onde foi produzido.

3 - Pela manutenção do primeiro substitutivo do Dep. Jorge Bittar ao PL 29/2007, garantido no mínimo percentual de 10% para a produção independente em todos os canais.

Cidades

1 - Transporte/ mobilidade
Garantir a acessibilidade e mobilidade às cidades das diferentes juventudes em todos os municípios brasileiros, por meio:
- da efetivação do passe livre para a juventude e estudantes, dando aos municípios a prerrogativa de definir qual o perfil, de acordo com as diferentes realidades, consultados os conselhos de juventude;
- da garantia de recursos para essa finalidade no fundo nacional de juventude a ser criado;
- de uma política de incentivo, de âmbito nacional, à criação e manutenção de empresas públicas de transporte coletivo;
- da adaptação do espaço público das cidades às necessidades dos jovens portadores de deficiência física e do incentivo à utilização de meios de transporte alternativos e não poluentes (como bicicletas, através da implantação de ciclovias).

2 - Reforma urbana
Garantir o direito do jovem à cidade, em conformidade com o estatuto da cidade, por meio:
- de uma política de habitação de interesse social que proporcione financiamento de moradias para famílias formadas por jovens;
- do cumprimento da função social da propriedade, da reversão para moradia de interesse social dos imóveis utilizados para fins ilícitos e da simplificação dos processos de regularização fundiária nas terras públicas e privadas, com cotas para jovens;
- da formulação dos planos municipais e estaduais de saneamento ambiental, de forma participativa que contemplem os anseios e necessidades da juventude e os processos de coleta seletiva por meio de cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis;
- da garantia de espaços de interação social e equipamentos de esporte, lazer e cultura, aproveitando o espaço escolar nos fins de semana (institucionalização do programa escola aberta).

3 - Regionalização das políticas públicas
Implementar as políticas públicas de juventude:
- de acordo com os dados do Ìndice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ) da Unesco para cada região e/ou estado, para que as mesmas sejam aplicadas de acordo com as demandas, priorizando as carências e especificidades de cada localidade.
- de forma a garantir políticas de educação e trabalho que possibilitem ao jovem a opção pela permanência nas cidades do interior.

Outros Temas
1 - Fim da obrigatoriedade do serviço militar, e criação de programas alternativos de serviços sociais não obrigatórios.


7.10 – O Pacto Pela Juventude

Ainda em 2008, O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) lançou no dia (22/7), o Pacto pela Juventude, selando o seu apoio às resoluções apresentadas pela I Conferência Nacional de Juventude. A iniciativa teve por objetivo envolver todos os atores governamentais e da sociedade civil para manter acesa a discussão sobre as políticas públicas de juventude, com foco nas prioridades apontadas na conferência.
O Pacto pela Juventude foi uma proposição do Conselho Nacional de Juventude aos governos (federal, estaduais e municipais) e aos candidatos a prefeito e vereador, para que se comprometessem com as Políticas Públicas de Juventude nas suas ações de governo e plataformas eleitorais, respectivamente.
O desafio foi traduzir as demandas identificadas nas conferências em propostas, iniciativas, programas e projetos de âmbito nacional, estadual e municipal, tendo como referência os seguintes parâmetros na implementação das políticas públicas de juventude:

Jovens como sujeitos de direitos: as políticas públicas de juventude se justificam e se orientam pelo atendimento às necessidades, não por uma compreensão de que os jovens e as jovens são “incompletos” ou “problemáticos”. Assim, estas políticas, não devem ter como objetivo proteger ou controlar suas vida dos jovens. O reconhecimento de seus direitos deve estar alicerçado em uma perspectiva ampla de garantia de uma vida social plena e de promoção de sua autonomia;
Faixa etária: No Brasil são consideradas jovens, as pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Mas não se pode perder de vista a existência de faixas etárias intermediárias. Os desafios colocados para os jovens de 16 são bastante distintos dos colocados para os jovens de 24 ou 29 anos, e este fato deve se refletir nas políticas; A valorização da diversidade juvenil: É preciso reconhecer que um contingente de 50,5 milhões de pessoas, entre 15 e 29 anos, num país continental como o Brasil, comporta inúmeras diferenças de condições de vida, de identidade, formas de organização e expressão. Ao invés de criar rótulos e estereótipos, devemos reconhecer e valorizar a diversidade (de gênero, raça e etnia, orientação sexual, jovens com deficiência e de comunidades tradicionais, por exemplo) como traço marcante da juventude brasileira, mas também gerar condições para a superação das desigualdades sociais e econômicas. Estas sim devem ser combatidas.

Políticas públicas articuladas e integradas: As políticas públicas de juventude devem ter caráter redistributivo, ou seja, devem estar orientadas para diminuir as desigualdades entre os jovens e outros segmentos etários e dos jovens entre si. Estas políticas têm que servir também para assegurar direitos, potencializar talentos e valorizar a condição juvenil, independentemente da condição social. Para isso, devem ser implementadas, simultaneamente: políticas universais que levem em conta as demandas e singularidades juvenis (como a educação pública e a saúde), políticas emergenciais (apresentando novas chances aos jovens em situação de maior vulnerabilidade social) e políticas específicas (que reconheçam e promovam o potencial e as particularidades da condição juvenil).

Transversalidade das políticas: A vida cotidiana não é dividida em departamentos. Mas o Estado é. Por isso, geralmente, temas que deveriam andar juntos, acabam espalhados em secretarias e ministérios diferentes. Tratar as questões juvenis de modo transversal significa integrar objetivos e ações das políticas públicas. Mais do que uma pauta exclusiva dos órgãos institucionais de Juventude, os jovens devem ser tratados como um assunto estratégico por todo o Governo;

Desenvolvimento integral: A juventude não é apenas uma passagem para o mundo adulto. Mais do que uma preparação para o futuro, a vivência juvenil é uma realidade no presente e na contemporaneidade, combina processos formativos com processos de experimentação e construção de trajetórias nos mais diversos âmbitos. Para garantir um desenvolvimento integral, as políticas públicas devem orientar-se pelo reconhecimento de que a escola, o trabalho, a cultura e as tecnologias de informação estão relacionadas, especialmente a partir das transformações sociais e dos avanços científicos dos últimos vinte anos;

Criação de órgãos especializados em juventude: fortalecer as políticas públicas de juventude implica responsabilidades diretas e específicas, com a implementação de projetos e programas que levem em conta as demandas específicas da atual geração de jovens. Por isso, é indispensável à constituição de assessorias, coordenadorias ou secretarias no âmbito do Poder Executivo, com atribuições específicas na coordenação e articulação destas políticas;

Participação e Conselhos de Juventude: Promover o direito à participação é indispensável para o sucesso e efetividade de uma política de juventude. Ampliar os canais de diálogo com os movimentos juvenis e demais organizações da sociedade civil vinculadas ao tema, por meio do fortalecimento e criação dos Conselhos de Juventude (estaduais e municipais) e realização de Conferências é fundamental. À juventude cabe um papel ativo na formulação, monitoramento e avaliação dos projetos e programas. O sentido desta participação deve extrapolar os limites das políticas de juventude e vincular o debate em torno de um projeto de desenvolvimento local e nacional.
Outra iniciativa importante de apoio ao Pacto pela Juventude foi o manifesto lançado pelas juventudes partidárias, chamado de “Compromisso com a Juventude e com o Brasil”. O texto tem o seguinte conteúdo: Nós, representantes de juventudes partidárias das diferentes correntes político-ideológicas, em um ato suprapartidário, manifestamos nosso apoio e participação no Pacto pela Juventude. Nossa organização em todo o Brasil e a participação de nossas militâncias em dezenas de movimentos juvenis e sociais nos proporciona um considerável poder de articulação e mobilização que será canalizado para a efetivação das etapas deste pacto, uma vez que o compromisso com a defesa dos direitos da juventude brasileira tem sido um ponto de convergência em nossas ações cotidianas, capaz de sustentar alianças suprapartidárias em nome da juventude brasileira. A nosso ver, o Pacto pela Juventude deve ser amplo e democrático e buscar envolver instituições, organizações, movimentos, fóruns, redes, agentes administrativos e políticos, tomadores de decisão e demais atores sociais que se relacionam com esta temática. Nesse sentido, ressaltamos a importância da sistematização das diretrizes em Planos de Juventude, nos diversos âmbitos, o que contribuirá com a missão de alçar as políticas de juventude à condição de Política de Estado. Nesse sentido, é fundamental a aprovação pelo Congresso Nacional da Proposta de Emenda Constitucional 138/2003, conhecida como PEC da Juventude, que "Dispõe sobre a proteção dos direitos econômicos, sociais e culturais da juventude". Aprovar essa matéria significa incluir definitivamente a juventude como uma questão do Estado brasileiro, ao mesmo tempo em que seria o reconhecimento à luta desta geração por mais direitos. Também atentamos para a necessidade de institucionalização da Política de Juventude nos diversos níveis da administração pública, com a criação de órgãos gestores de juventude que tenham, entre outras, a missão de coordenar os esforços do referido governo no tocante a juventude e de Conselhos da Juventude como espaços privilegiados para garantir a participação autônoma das juventudes e da sociedade civil na formulação, execução, monitoramento e avaliação das PPJ. O lastro social deste pacto está ancorado na mobilização gerada pela 1ª Conferência Nacional de Juventude, que contou com mais de 400 mil participantes, nos 27 Estados e em mais de 1.000 cidades, nas etapas livres, regionais, municipais e estaduais. O seu conteúdo principal são as resoluções destas conferências, especialmente as 22 prioridades aprovadas na Etapa Nacional. Nesse sentido, nos comprometemos a levantar a bandeira do Pacto pela Juventude nas Eleições Municipais de
2008, de modo que os candidatos a vereador e a prefeito assumam o compromisso com parâmetros e diretrizes que visem o fortalecimento das políticas públicas de juventude tendo como referência para suas plataformas eleitorais as 22 prioridades aprovadas pela Conferencia Nacional de Juventude, sem esquecer que após a eleição e posse dos novos governantes municipais temos que seguir acompanhando a efetivação dos compromissos de campanha seja nos movimentos sociais e juvenis, seja nos conselhos municipais de juventude, que, com certeza, se multiplicarão a partir de 2009.
Assinam (em ordem alfabética):
Anderson Xavier, Presidente do Movimento da Juventude Trabalhista MJT/ PTB; Dep. Estadual Bruno Covas, Presidente da Juventude PSDB; Dep. Federal Efraim Filho, Presidente da Juventude DEM; João Alberto Lages, Presidente da Juventude PMDB; Joubert Fonseca de Andrade, Presidente da Juventude Socialista Brasileira JSB/PSB; Luiz Martins – Luizinho, Presidente da Juventude Socialista JS/PDT; Maiko Vieira, Presidente da Juventude Popular Socialista JPS/PPS; Marcelo Brito – Gavião, Presidente da União da Juventude Socialista UJS/PC do B; Pedro Feiten, Presidente da Juventude PP e, Severine Macedo, Secretária Nacional de Juventude do Partido dos Trabalhadores – JPT.


7.11 – O mapa dos Estados


O Brasil está em franco processo de construção das políticas públicas de juventude, bem como vivencia a criação de espaços consultivos e deliberativos com a participação da sociedade civil para elaboração de propostas e ações de ordem política. As ações do Governo Federal na implementação da Política Nacional de Juventude deram um passo decisivo para que o tema entrasse na pauta política no país. A partir do Encontro Nacional de Gestores de Juventude, promovido pela Secretaria Nacional de Juventude em janeiro de 2007 e das Conferências Municipais e Estaduais, teve início a constituição de Conselhos, Coordenadorias e Secretarias de Juventude nos diferentes estados e cidades brasileiras, mobilizando tanto o poder público, quanto os próprios jovens em torno da constituição desse espaço de diálogo e controle social.
Alguns avanços já foram conquistados, do ponto de vista de criação e estruturação dos mecanismos formais de participação da juventude nos estados e municípios. No entanto, se faz necessário intensificar o processo de convencimento e sensibilização dos setores públicos e da sociedade civil organizada no sentido de buscar assumirem o compromisso de implementarem as políticas públicas de juventude.

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